sábado, dezembro 24, 2011

Boas Festas

quarta-feira, dezembro 21, 2011



A Escola, um paraíso na Terra?

Com mais de trinta anos de serviço prestado, em várias escolas da ilha de São Miguel e numa da ilha Terceira, acho que estou a atingir o limite das minhas forças e da paciência, não só porque as maleitas associadas à idade já começam a pesar um pouco, mas também porque da parte de quem as devia frequentar, alguns alunos, a receptividade à aprendizagem, por vezes deixa muito a desejar.

Tenho plena consciência de que a sociedade modificou-se, infelizmente nem sempre para melhor, e de que uma parte, se calhar grande, do problema estará do meu lado. Com efeito, não me consigo adaptar à hipocrisia de alguns responsáveis nem ao desrespeito à sociedade e a quem trabalha por parte de quem está na escola apenas para passar o dia no recreio e a perturbar as aulas, desrespeitando quem quer aprender e quem se esforça por ensinar.

Hoje, a escola, e não só, parece-me uma grande produtora de espectáculos cujo único objectivo é transmitir para o exterior que tudo está bem, quando a realidade, sentida por quem a quer sentir, é outra e não há meios para a alterar, por mais que venham dizer que com o actual estatuto do aluno a situação estará a dois passos de ser solucionada. Fico à espera, sentado para não me cansar, de ser aplicada a primeira “multa” aos pais e que esta seja paga com o seu vencimento e não com o chamado “rendimento social” para atirar um bom par de roqueiras.

Gostaria, também, de saber como se pode mudar a escola quando nada se faz, digno de ser realçado, para mudar a sociedade.

Será que é possível exigir disciplina e rigor na escola quando cá fora se fomenta a alienação e o facilitismo? Será que se pode ter outra escola quando se dificulta a participação das famílias, aumentando horários de trabalho e reduzindo os vencimentos?

Será que se pode ter outra escola quando não se motiva os professores, obrigando-os a fazer um conjunto de tarefas inúteis, como planos para isto e para aquilo, quando se sabe que muitos deles não têm meios para sair do papel ou quando se implementam aulas de substituição em moldes que não dignificam os docentes e não servem aos alunos?

Até aqui, limitei-me a referir alguns assuntos de carácter genérico, mas como sou professor de uma disciplina que se inclui nas denominadas ciências experimentais, não queria deixar passar a oportunidade para lamentar o facto dos nossos deputados/governantes, alguns dos quais professores, mas possivelmente sem qualquer vocação para tal, terem, depois de elogiado, da boca para fora, a importância do ensino das ciências, diminuído a sua carga horária.

Também não compreendo como se pretende fomentar o ensino experimental e não se orçamentam as verbas necessárias para pelo menos repor o que nos laboratórios se vai tornando obsoleto ou vai avariando. Culpa da Secretaria Regional que tutela a educação ou insensibilidade dos Conselhos Executivos?

Senhores responsáveis por esta situação, trabalhar, num computador, com laboratórios virtuais não é a mesma coisa do que realizar uma actividade experimental numa sala de aula. Como muito bem escreveu uma estudante de mestrado na Universidade de Aveiro “os laboratórios virtuais não substituem os processos reais. Julgo que esta deve ser a ideia geral a reter. Portanto, o professor deve estar consciente de que o recurso a estes meios apenas deverá ser ocasional”.

Sobre o assunto, o professor, pedagogo, historiador da ciência e da educação, divulgador científico e poeta Rómulo de Carvalho, em entrevista ao Público, em 1996, disse o seguinte: “Em relação ao ensino experimental, as experiências acompanham aquilo que queremos ensinar quando estamos na aula, mas o método de ensino não é exclusivamente experimental. As experiências servem para esclarecer o aluno sobre aquilo que está a ouvir. Eu levava sempre para a aula material que punha em cima da mesa e os alunos olhavam com toda a curiosidade: ‘Para que é isto? Para que é aquilo?’ À medida que ia falando, ia preparando as coisas e mostrando o que se passava, para ilustrar aquilo que estava a dizer.” Será que já está ultrapassado?

Quem não conhece a realidade das escolas e quem lê os jornais por elas editados ficará com a ideia de que nelas não há problemas de indisciplina, que os laboratórios estão todos bem apetrechados, que as novas tecnologias foram capazes de motivar os alunos, que os professores se sentem realizados profissionalmente e que voluntariamente participam nas baterias de actividades de final de período ou comemorativas disto ou daquilo. Enfim, como dizia o meu avô Manuel, a escola é “um céu aberto fechado numa grota”.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 21 de Dezembro de 2011, p.9)

sexta-feira, dezembro 16, 2011




«BISPO CONDENA E PEDE A ABOLIÇÃO DA CORRIDA DE TOUROS»
Não, infelizmente, isto não é em Portugal.

Em Portugal os bispos estão calados. Coniventes com a barbárie. Cúmplices do espectáculo sádico, que é o Massacre de Touros (vulgo Tourada).

Este é o título de uma notícia, de outro país, que tal como o nosso, ainda não se libertou das trevas, mas onde a Igreja Católica toma posição.

Eis a notícia traduzida, para ser melhor compreendida:

«São numerosas as declarações de membros da Igreja Católica que vêm condenando as corridas de touros. Uma delas é a do Secretário do Vaticano, Bispo Pietro Gasparri que em 1923, disse: “Embora a barbárie humana ainda persista nas corridas de touros, a Igreja continua condenando em voz alta estes sangrentos e vergonhosos espectáculos, como o fez Sua Santidade o Papa Pio V”.

«Recentemente, em Novembro de 2011, o Bispo de Maracaibo, na Venezuela, manifestou-se, dizendo: “Os maus-tratos de animais são um triste e lamentável prolongamento que os seres humanos se infringem mutuamente, e dos quais as mulheres, as crianças e os idosos são as principais vítimas”».
Mais adiante o mesmo Bispo disse: «Como poderemos erradicar do mundo a crueldade e os maus-tratos se nós próprios os apoiamos num espectáculo para divertir o povo?»

«Não obstante, na Colômbia e no mundo, são muitos os que se dizem católicos, e de manhã vão à missa e, de joelhos, rogam pela paz, pela vida, pelo amor, pelo respeito, e à tarde assistem a um dos espectáculos mais cruéis e esvaziados de valores como são as violentas corridas de touros».
Estas declarações podem ser ouvidas através do seguinte link:

https://www.facebook.com/#!/photo.php?v=2895565034196
SENHORES BISPOS PORTUGUESES, PARA QUANDO UMA TOMADA DE POSIÇÃO PÚBLICA, DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS CRISTÃOS, NO SENTIDO DA ABOLIÇÃO DA TORTURA DOS TOUROS E DOS CAVALOS NAS ARENAS PORTUGUESAS?

Fonte: http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/67265.html
BIBLIOFILIA



Meu pai foi camponês, com alguma terra, e minha mãe doméstica, filha de um pequeno lavrador que durante algum tempo também foi vendedor de leite, numa antiga mercearia e a vizinhos, antes das fábricas de lacticínios se instalarem na ilha de São Miguel.
Dada a origem social, a minha família não me proporcionou, em criança, acesso aos livros, a não ser a uns poucos velhos manuais escolares que haviam sido de minha mãe. Apesar desta lacuna, desde muito cedo me interessei pela leitura e saciei o meu gosto por ler requisitando o número máximo permitido pela biblioteca ambulante da Fundação Calouste Gulbenkian que mensalmente visitava a Ribeira Seca de Vila Franca do Campo.

Mais tarde, com o meu ingresso no Externato de Vila Franca, continuei a ler não só os livros de leitura obrigatória mas também muitos outros que requisitava na biblioteca fixa da Gulbenkian que existia na Vila ou que me eram emprestados por pessoas que os possuíam.

Com a minha ida para Ponta Delgada para frequentar o antigo sexto ano de escolaridade (actual décimo ano), com todas as economias que conseguia fazer, comecei a comprar os primeiros livros, jornais e revistas. Na altura, 1974, para além de comprar tudo o que se relacionava com a história dos Açores, alguns romances de escritores de renome portugueses, como Eça de Queirós, e brasileiros, como Jorge Amado, também adquiria quase tudo o que se relacionava com as diferentes correntes políticas, nomeadamente as situadas no lado esquerdo do espectro político-partidário.
Alguns anos mais tarde, a minha pobre e pequena colecção foi muito enriquecida com uma oferta que me fez o camponês e investigador autodidacta Manuel Amaral Brum que se encontrava emigrado nos Estados Unidos da América. Com efeito, aquando de uma sua visita a São Miguel fui convidado por ele para o ajudar a seleccionar livros para oferta ao então Instituto Universitário dos Açores e como paga recebi uma fabulosa colecção de livros sobre os Açores, de que destaco as primeiras edições das Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso, e os seis volumes de “A Vila - História de Vila Franca”, a maioria dos volumes de “A vida dos nossos avós - Estudos etnográficos da vida açoriana através das suas leis gerais” e alguns romances, todos da autoria do vilafranquense Urbano de Mendonça Dias.

Com o decorrer dos anos, o meu convívio diário com os livros e com a leitura nunca esmoreceu e ao longo dos tempos fui aumentando a minha colecção quer através da compra de livros, quer das muitas ofertas que recebi. No que a estas diz respeito, destacaria um conjunto de livros, nomeadamente romances, que pertenceram ao jovem artista plástico micaelense José Manuel de Medeiros Cabral e uma dezena de títulos da autoria do Dr. João Anglin, antigo reitor do Liceu Nacional de Ponta Delgada, que este dedicou à sua “antiga aluna e estimada prima Maria Emília Soares Pereira”.
Embora não tenha por hábito ir a sessões de lançamento de livros e de “pedir” dedicatórias aos seus autores, tenho uns tantos que alguns tiveram a gentileza de me enviar com dedicatória. Entre esses livros destacaria “Açores - Origens, Raízes e História”, editado em 1999, que o seu autor, o jornalista e escritor micaelense Manuel Ferreira, escreveu “em honra e louvor de todos os Açorianos que sabem manter a chama viva da Açorianidade e alto o pensamento na exaltação da pequena Pátria Açoriana”.

Sem nunca abandonar a temática açoriana, nos últimos tempos, tenho lido e comprado biografias e publicações diversas sobre a resistência à ditadura de Salazar e Caetano e sobre os primeiros anos após a chamada Revolução dos Cravos.

É deste período que tenho a assinatura mais “famosa”. Está no livro “O imperialismo e a revolução”, editado pelas Edições Bandeira Vermelha, em 1978, e é da autoria de um membro do Partido Comunista do Brasil, o Eng.º Diógenes Arruda Câmara, que foi perseguido e torturado pela ditadura fascista brasileira e que esteve exilado em Portugal, onde desempenhou um papel de relevo na criação do, hoje extinto, Partido Comunista Português Reconstruído e da União Democrática Popular, um dos partidos, também já desaparecido, que esteve na origem da criação do Bloco de Esquerda.

Diógenes Arruda e Jorge Amado foram grandes amigos, de tal modo que o famoso escritor brasileiro fez dele uma das personagens (Vítor) e a ele dedicou o seu romance “Subterrâneos da Liberdade”.

Teófilo Braga