terça-feira, novembro 27, 2007

Nem tudo o que luz é verde





A questão ambiental entrou finalmente no discurso público e na agenda política, o que não deixa de causar alguma surpresa aos activistas dos movimentos ecológicos, sobretudo àqueles que militam há mais tempo e se habituaram a ser apodados de utópicos e inimigos do desenvolvimento. A surpresa é tanto maior se se tiver em conta que o fenómeno não parece estar relacionado com uma intensificação extraordinária da militância ecológica. Quais, pois, as razões?
Ao longo das últimas quatro décadas, os movimentos ecológicos foram ganhando credibilidade à medida que a investigação científica foi demonstrando que muitos dos argumentos por eles invocados se traduziam em factos indesmentíveis – a perda da biodiversidade, as chuvas ácidas, o aquecimento global, as mudanças climáticas, a escassez de água, etc. – que, a prazo, poriam em causa a sustentabilidade da vida na terra. Com isto, ampliaram-se os estratos sociais sensíveis à questão ambiental e a classe política mais esclarecida ou mais oportunista (ainda que por vezes disfarçada de sociedade civil, como é o caso de Al Gore) não perdeu a oportunidade para encontrar nessa questão um novo campo de actuação e de legitimação. Assim se explica o importante relatório sobre a "conta climática" de um economista nada radical, Nicholas Stern, encomendado por um político em declínio, Tony Blair. Neste processo foram "esquecidos" muitos dos argumentos dos ambientalistas, nomeadamente aqueles que punham em causa o modelo de desenvolvimento capitalista dominante. Este "esquecimento" foi fundamental para a segunda razão do actual boom ambiental: a emergência do ecologismo empresarial, das indústrias da ecologia (não necessariamente ecológicas) e, acima de tudo, dos agrocombustíveis cujos promotores preferem designar, et pour cause, como biocombustíveis.
As reservas que os movimentos sociais (ambientalistas e outros) levantam a este último fenómeno merecem reflexão tanto mais que, tal como aconteceu antes, é bem provável que só daqui a muitos anos (tarde demais?) sejam aceites pela classe política e opinião pública. A primeira pode formular-se como uma pergunta: é de esperar que as indústrias da ecologia resolvam o problema ambiental quando é certo que a sustentabilidade económica delas depende da permanente ameaça à sustentabilidade da vida na terra? A eficiência ambiental dos agrocombustíveis é uma questão em aberto que, aliás, se agravará com a "segunda geração de agrocombustíveis" que, entre outras coisas, inclui a introdução de plantas (árvores) geneticamente modificadas. Por outro lado, a produção dos agrocombustíveis (cana do açúcar, soja e palma asiática) usa fertilizantes, polui os cursos de água e é já hoje uma das causas da desflorestação, da subida do preço da terra e da emergência de uma nova economia de plantação, neo-colonial e global. A segunda reserva está relacionada com a anterior e diz respeito ao impacto da expansão dos agrocombustíveis na produção de alimentos. No início de Setembro, o bushel de trigo (cerca de 36 litros) atingiu o preço record de 8 dólares na bolsa de mercadorias de Chicago. Más colheitas (derivadas das mudanças climáticas), o aumento da procura pela China e a Índia e a produção de agrocombustíveis foram as razões do aumento e a expectativa é de que a subida continue. O aumento do preço dos alimentos vai afectar desproporcionalmente populações empobrecidas dos países do Sul, pois gastam mais de 80% dos seus parcos rendimentos na alimentação. Ao decidir atribuir 7,3 biliões de dólares em subsídios para a produção de agrocombustíveis, os EUA produziram de imediato um aumento (que chegou a 400%) do preço do alimento básico dos Mexicanos, a tortilla. Reside aqui a terceira reserva: os agrocombustíveis podem vir a contribuir para a desigualdade entre países ricos e países pobres. Enquanto na UE a opção pelos agrocombustíveis corresponde, em parte, a preocupações ambientais, nos EUA a preocupação é com a diminuição da dependência do petróleo. Em qualquer dos casos, estamos perante mais uma forma de proteccionismo sob a forma de subsídios à agroindustria, e, como a produção doméstica não é de nenhum modo suficiente, é, de novo, nos países do Sul que se vão buscar as fontes de energia. Se nada for feito, repetir-se-á a maldição do petróleo: a pobreza das populações em países ricos em recursos energéticos.
O que há a fazer? Critérios exigentes de sustentabilidade global; democratização do acesso à terra e regularização da propriedade camponesa; subordinação do agrocombustível à segurança e à soberania alimentares; novas lógicas de consumo (se a eficiência do transporte ferroviário é 11 vezes superior à dos transportes rodoviários, porque não investir apenas no primeiro?); alternativas ao mito do desenvolvimento e numa nova solidariedade do Norte para com o Sul. Neste domínio, o governo equatoriano acaba de fazer a proposta mais inovadora: renunciar à exploração do petróleo numa vasta reserva ecológica se a comunidade internacional indemnizar o país em 50% da perda de rendimentos derivados dessa renúncia.

Boaventura Sousa Santos

Publicado na Visão em 25 de Outubro de 2007

domingo, novembro 25, 2007

25 DE NOVEMBRO DE 1975:
A DEMOCRACIA LIBERAL NÃO É ALTERNATIVA AO ESQUERDISMO E AO SECTARISMO!



Em 1975, o 25 de Novembro representou o triunfo da democracia liberal e parlamentarista sobre o impasse revolucionário a que conduziu o esquerdismo e o sectarismo.

Trinta e dois anos depois, as assimetrias sociais em crescendo, o liberalismo económico e financeiro que repôs o poder de meia dúzia de grandes grupos , a quase inexistência de direitos por parte de quem trabalha num quase onde domina a precariedade nas suas diversas facetas (contratos a prazo, falsos recibos verdes, sub-emprego ...), os ataques ao Serviço Nacional de Saúde mesmo que tendencialmente gratuito, ... , tudo isto são consequências do triunfo da democracia liberal e parlamentarista.

O 25 de Novembro de 1975 veio também provar que não é possível manter um processo revolucionário numa espécie de meio-termo, de impasse, no qual se vão degladiando correntes sectárias e esquerdistas, com acções que ignoram crescentemente o sentir e a vontade populares, dando-as, de mão-beijada, às correntes contra-revolucionárias que procuram sempre a reposição de velhas ordens.

Em 25 de Novembro de 1975 não havia o perigo de uma contra-revolução fascista, como queriam fazer crer as correntes esquerdistas dominantes. Mas o triunfo do parlamentarismo burguês rápidamente criou condições para a reposição de uma sociedade onde o poder económico e financeiro condiciona o poder político e, na onda do securitarismo norte-americano, passa também a condicionar o exercício das liberdades democrática e dos direitos sociais.

O Partido Socialista representou toda a contradição desse período e reeditou o papel contra-revolucionário que a social-democracia já havia representado noutros processos revolucionários. O PS reuniu efectivamente uma forte vontade popular para uma mudança socialista, mas essa vontade sempre foi desfigurada pelas sucessivas direcções "socialistas" que, uma vez no governo, foram abrindo todas as portas ao domínio do poder económico e financeiro reconstruído com uma onda sem precedentes de privatizações.

Em Novembro de 1975, como aliás desde o 25 de Abril de 1974, sempre faltou ao e no processo revolucionário português uma alternativa socialista que não reeditasse velhos desvios esquerdistas, sectários e até totalitários. Esquerdistas (uma incrível amalgama de grupos e microscópicos partidos) , estalinistas (o PCP) e social-democratas (mal designados de PS e/ou de "socialistas") foram reproduzindo receitas, modelos e teorias, nas quais, as massas populares, foram meros joguetes ... A sede de controlo burocrático do movimento sindical, das comissões de trabalhadores e de moradores, ... , rápidamente colocou o processo revolucionário num impasse com a contra-revolução neo-liberal à espreita ...

As revoluções não precisam de iluminados, nem precisam de "vanguardas" ... precisam, isso sim, de deixar crescer livremente a iniciativa social, sendo esta a que tem de buscar e criar novas formas de organização que consolidem e orientem o processo revolucionário!

Tal não aconteceu com a revolução portuguesa e o resultado foi o triunfo da democracia liberal, significando esse triunfo a reposição de um modelo de sociedade onde a democracia é formal, o parlamentarismo é uma rolha sobre a iniciativa popular e o poder político é refém de uma realidade que configura uma autentica ditadura económica e financeira!

--
Publicada por Tribuna Socialista em TRIBUNA SOCIALISTA a 11/25/2007 06:09:00 PM

sexta-feira, novembro 23, 2007

quarta-feira, novembro 21, 2007

El comercio de emisiones no es la solución para frenar el cambio climático
Lo indecente del comercio de emisiones de CO2



En 1992, una tristemente célebre nota filtrada a la prensa escrita por Lawrence Summers, entonces economista jefe del Banco Mundial, señalaba que "la lógica económica de deshacerse de los residuos tóxicos en los países de salarios más bajos es impecable, y deberíamos afrontarla".


En estos momentos, se está intentando imponer un tipo de ecologismo de libre mercado muy parecido, que reduce debates muy complejos a una mera discusión sobre cifras y gráficos que ignora variables imposibles de cuantificar, tales como la pérdida de vidas humanas, la extinción de especies y la agitación social.


'Economía basura'


Puede que los análisis de costos-beneficios sean una herramienta útil para tomar decisiones en situaciones relativamente simples o cuando hay un número limitado de opciones sencillas entre las que elegir.


Pero tal como observa Tom Burke, profesor visitante en el Imperial College London: "lo cierto es que aplicar análisis de costos-beneficios a cuestiones como el cambio climático no es más que economía basura (...) Es vanidoso por parte de los economistas creer que todas las opciones se pueden reducir a un conjunto de cálculos de valor monetario".

Algunos comentaristas han aplaudido el Informe Stern, un importante estudio publicado por el Gobierno británico en diciembre de 2006, por hablar en la jerga económica que entienden los políticos y la comunidad empresarial.


Pero al encuadrar el problema únicamente en términos de precios, comercio y crecimiento económico, estamos restringiendo el alcance de la respuesta ante el cambio climático a soluciones basadas en el mercado.


Estas "soluciones" suelen adoptar dos formas:

• el comercio de emisiones, un sistema por el que los Gobiernos otorgan permisos a grandes contaminadores industriales para que puedan comerciar con "derechos de contaminación" entre sí, según sus necesidades;


• la generación de excedentes de créditos de carbono a través de proyectos, normalmente ubicados en países del Sur, que afirman reducir o evitar emisiones en otros lugares; estos créditos se pueden adquirir para compensar cualquier falta en la reducción de emisiones.

Así, estos sistemas nos permiten eludir la respuesta más eficaz que se podría dar al cambio climático: dejar los combustibles fósiles en el subsuelo. Evidentemente, no se trata de una propuesta sencilla para nuestra sociedad, muy dependiente de dichos combustibles; sin embargo, todos sabemos que eso es precisamente lo que se necesita.


Por lo tanto, ¿qué incentivo hay para empezar a emprender estos costosos cambios a largo plazo cuando uno se puede limitar a comprar créditos de carbono, más baratos, a corto plazo?


La presión del mercado


En el actual contexto económico neoliberal, las normas del comercio sucumben inevitablemente ante las presiones del cabildeo de las grandes empresas y la falta de regulación a fin de garantizar que los Gobiernos no "interfieran" en el fluido funcionamiento del mercado.


Ya hemos presenciado esa corrosiva influencia en el Sistema de Comercio de Emisiones (ETS) de la Unión Europea, cuando, sometidos a una intensa presión empresarial, los Gobiernos adjudicaron permisos de emisiones en exceso a las industrias más contaminantes en la ronda inicial.


Esto provocó una caída en el precio del carbono superior al 60%, con lo que se desincentivó aún más a las industrias a reducir sus emisiones en el origen.


La industria cuenta con todo tipo de lagunas jurídicas e incentivos para exagerar sus emisiones con el fin de obtener más permisos y, por lo tanto, tomar aún menos medidas.


El analista de mercados Franck Schuttellar calcula que, durante el primer año de funcionamiento del sistema, las industrias más contaminantes del Reino Unido ganaron, en conjunto, 940 millones de libras (1.373 millones de euros) en beneficios imprevistos gracias a las generosas asignaciones del ETS.


Teniendo en cuenta todo lo que sabemos sobre el vínculo entre contaminación y cambio climático, esa gran concesión pública a empresas muy poco limpias raya lo indecente.


Se nos pide que confiemos en que la flexibilidad y la eficiencia del mercado garantizarán que las emisiones de carbono se reduzcan de la forma más rápida y eficaz posible, mientras que la experiencia nos demuestra que la falta de una normativa estricta tiende a crear problemas medioambientales, no a resolverlos.


Políticas ineficaces


Hay toda una corriente de opinión que defiende que la "mano invisible" del mercado no es la forma más eficaz de afrontar el cambio climático.


La Declaración de Durban sobre justicia climática, suscrita por organizaciones de la sociedad civil de todo el mundo, manifiesta que convertir el carbono en una mercancía representa una privatización a gran escala de la capacidad de la Tierra para reciclar carbono. El pastel atmosférico se reparte y se entrega a los mayores contaminadores del mundo.

Una acción eficaz frente al cambio climático exigiría reivindicar, adoptar y respaldar políticas que reduzcan las emisiones en su origen, y no un sistema para compensarlas o comerciar con ellas.


El comercio de emisiones no es la respuesta; las emisiones se deben reducir de forma general, sin sutiles cláusulas de salvaguardia para los principales contaminadores.


Urge aplicar una regulación, una supervisión y multas más estrictas a los contaminadores, en el ámbito comunitario, local, nacional e internacional, así como apoyar activamente a las comunidades afectadas por el cambio climático. En estos momentos, esas políticas son prácticamente invisibles, ya que van en contra de las vacas sagradas del crecimiento económico y el libre mercado.


Lamentablemente, cuando se trata de abordar el cambio climático y mantener un crecimiento económico basado en la permanente y creciente extracción y consumo de combustibles fósiles no hay soluciones de aquellas en que "todo el mundo sale ganando".

Los mecanismos basados en el mercado, como el comercio de emisiones, representan una ingeniosa estratagema de contabilidad creativa que desvía la atención del hecho de que no hay un escenario "convencional" viable.


Las políticas sobre cambio climático deberían ser algo mucho más serio.


Kevin Smith es investigador de Justicia Medioambiental, un programa del Transnational Institute ( http://www.tni.org/es ) que estudia las repercusiones del comercio de emisiones sobre la sociedad y el entorno. (Traducción de Beatriz Martínez)
(in www.rebelion.org)

terça-feira, novembro 20, 2007

Gestores públicos açorianos com vencimentos 'milionários'


PAULO FAUSTINO
Prémios de antiguidade e assiduidade servem para engordar ordenados
Os presidentes das empresas públicas dos Açores ganham uma média mensal de 4 251 euros, o que compara com o rendimento médio de 600 euros de cada açoriano. O Tribunal de Contas fez a média, num universo considerado de 26 empresas e organismos regionais.

A auditoria do Tribunal de Contas (TC), ao período entre 2004 e 2006, aponta irregularidades no regime remuneratório do sector público empresarial da região. O relatório divulgado ontem constata que as "despesas de representação são abonadas aos administradores 14 vezes por ano, com excepção da Lotaçor em que são 12, pelo exercício de funções de representatividade, que ocorrem, normalmente, num período de 11 meses por ano".

A companhia aérea Sata e a Eléctrica Açoriana, que nesse período eram presididas respectivamente por António Cansado e Roberto Amaral, são as empresas mais "generosas" no pagamento de remunerações aos administradores. Em ambas, a cada um dos seus executivos foram atribuídos em 2005 prémios de gestão, no valor único de 12 500 euros, pelo desempenho alcançado em 2003. Estes dois grupos são também os que maiores custos suportam com a concessão de benefícios adicionais aos seus administradores, que usufruem de telemóvel e viatura. O que gera encargos superiores a mil euros por mês, em média. A auditoria do Tribunal de Contas revela ainda que o mais bem pago das empresas de capitais públicos nos Açores é o presidente da Saudaçor, empresa que tutela a área da saúde. Teresa Luciano substituiu, em Outubro do ano passado, António Luís Teixeira à frente desta sociedade. O seu vencimento base é de 4 800 euros, a que se juntam mais mil euros referentes a despesas de representação. Contas feitas, leva ao fim do mês para casa 5 800 euros. Um salário superior a cinco mil euros é o que auferem os presidentes da Sata e da EDA.

Mas o fosso entre gestores também existe no sector público empresarial regional. Na ilha de Santa Maria, o presidente da administração dos transportes colectivos tem direito a um vencimento mensal de quase sobrevivência, ou seja, de pouco menos 500 euros. Muito abaixo do que recebem alguns vogais de outras empresas regionais, que auferem um salário de 3 631 euros por mês.

A auditoria alerta ainda para a situação "inadequada" no seio das empresas do grupo EDA, ao serem as únicas a atribuir prémios de antiguidade e de assiduidade aos administradores. Por tudo isso, o tribunal faz a recomendação ao Governo açoriano: "Deverá promover a aprovação de adequada regulamentação que, de forma coerente e completa, estabeleça o estatuto remuneratório" dos titulares dos órgãos de gestão e administração das empresas públicas.

(in http://dn.sapo.pt/2007/11/20/economia/gestores_publicos_acorianos_vencimen.html)

E há quem ache que são os trabalhadores que ganham muito. Puta que os pariu!
Se privatizar é a resposta, qual foi a pergunta?

Jorge Vasconcelos


Nada de mal acontecerá se, amanhã, após uma patriótica privatização para resolver a emergência financeira de hoje, os planos de expansão da REN forem anunciados num hotel londrino e os lucros das redes energéticas nacionais forem distribuidos pelas viúvas da Escócia, pelos reformados da Califórnia ou pelos oligarcas russos. Mas os consumidores portugueses de energia não retirarão daí qualquer benefício.

As redes nacionais de transporte de electricidade e de gás natural estão à venda. Eufemisticamente, diz-se que vão ser privatizadas - parcialmente, como sempre acontece quando o Estado, envergonhado, vende o seu património. Sobretudo quando esse património corresponde a uma infra-estrutura essencial que actua e continuará a actuar em regime de monopólio.

A privatização da REN-redes energéticas nacionais parece ser a resposta tecnicamente iluminada, politicamente moderna, economicamente inteligente, financeiramente vanguardista e socialmente ousada a uma qualquer questão. Será?

Será que a privatização da REN decorre de uma obrigação ou de uma recomendação comunitária (sabe-se como a Europa da concorrência sem distorções tinha as costas largas)? A resposta é não.

De acordo com o direito comunitário, o transporte de energia (electricidade e gás natural) é um monopólio regulado e deve ser exercido por empresas separadas juridicamente de empresas que actuem, em regime de concorrência, na produção, na importação e na comercialização de energia. Assegura-se assim o acesso não discriminatório de todos os interessados às infra-estruturas de transporte e facilita-se o desenvolvimento de mercados de energia eficientes.

O direito comunitário apenas impõe a separação jurídica da actividade de transporte, nem sequer obrigando à separação patrimonial. Contudo, quer a experiência portuguesa de separação patrimonial do transporte de electricidade, ocorrida em 2000, quer numerosas experiências internacionais, na electricidade e no gás natural, demonstram a vantagem de proceder à separação patrimonial.

A junção do transporte da electricidade e do gás natural numa mesma empresa é, normalmente, uma livre decisão empresarial. Embora em Portugal ela tenha sido imposta pelo legislador, não resulta, em todo o caso, de qualquer constrangimento do direito comunitário. Tratando-se de dois monopólios, esta forma de concentração não cria, em princípio, obstáculos ao desenvolvimento da concorrência e, potencialmente, pode proporcionar algumas economias ao sector energético (embora a escassa experiência internacional não seja conclusiva a respeito do valor das sinergias).

Relativamente à natureza da propriedade das empresas de transporte de energia - pública, privada ou cooperativa - o direito comunitário é neutro e as mais diversas situações coexistem no espaço da União Europeia. Olhando em torno, pode-se concluir que nem a propriedade privada das infra-estruturas de transporte garante automaticamente maior eficiência aos mercados de energia - sobretudo quando não é acompanhada da já referida separação patrimonial - nem a propriedade pública garante automaticamente melhor qualidade de serviço, contrariamente a algumas intuições difusas.

Será que a privatização da REN decorre de um compromisso eleitoral? A resposta é não.

O programa do Governo estabelece como objectivo "[d]ar um novo impulso à liberalização do mercado da electricidade, em todos os seus segmentos (produção, distribuição, comercialização) e antecipar o calendário de liberalização do mercado do gás natural" mas não refere a privatização da REN.

Que motivos podem justificar a privatização do transporte de energia em Portugal? Duas hipóteses ocorrem ao espírito:

a) Necessidade de atrair capital para novos investimentos no transporte de energia.

As dificuldades financeiras da EDP, no final dos anos 1980, levaram à abertura da produção de electricidade ao capital privado e à construção, no início dos anos 1990, da primeira central eléctrica em regime de project finance em Portugal (que foi também a primeira na Europa continental).

Todavia, a REN goza de excelente saúde financeira (em 2006 teve resultados líquidos de 148 milhões de euros e em 2005, antes da junção do gás à electricidade, de 104 milhões de euros) e são-lhe atribuídos os melhores ratings. Em 2005 investiu 215 milhões de euros no sector eléctrico - bem acima dos 137 milhões de 2004, dos 118 milhões de 2003 e dos cerca de 60 milhões por ano que investia nos anos 1990, antes da liberalização e da regulação do sector.

b) Necessidade de melhorar o desempenho da empresa.

O desempenho técnico e económico da REN tem vindo a melhorar ao longo dos últimos anos. De acordo com um estudo de benchmarking encomendado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, a REN, não sendo a empresa de transporte de electricidade mais eficiente, e tendo embora importantes ganhos de eficiência a obter, também não é a menos eficiente. Em 2006, as tarifas de uso da rede de transporte estavam 27% abaixo do valor de 1999, em termos reais.

Entre 1999 e 2004, a gestão optimizada dos contratos vinculados de produção de energia eléctrica do sistema público, realizada pela REN, permitiu obter ganhos comerciais de 111 milhões de euros que foram partilhados entre os consumidores e os accionistas da empresa.

O desempenho técnico da REN tem vindo a melhorar ao longo dos últimos anos, quer em termos de qualidade de serviço, quer em termos de redução das perdas de electricidade na rede - estas desceram de 2,6% em 1995 para 1,4% em 2005.

Se o Estado proprietário considerava o desempenho financeiro da empresa insuficiente, podia mudar a sua administração, como fazem normalmente os accionistas descontentes e como sugere o próprio programa do Governo: "O Estado, pela posição que ainda ocupa em importantes empresas, deve ser um exemplo catalisador da adopção de boas práticas de governação societária, tendo em vista a definição de um quadro de gestão que fomente o rigor, que responsabilize os responsáveis e promova uma maior transparência da sua acção. O Estado, deste ponto de vista, é um accionista como os demais e deve reger a sua actividade dentro do quadro normativo vigente".

Não sendo evidentes razões objectivas intrínsecas aos sectores da electricidade e do gás natural que justifiquem a privatização da REN, essas razões devem ser procuradas fora do sector energético. Descartando motivações ideológicas, manifestamente fora de moda, restam motivações financeiras - a emergência das contas públicas, a necessidade de reduzir o défice público.

O "emergencialismo" parece ser a nova ideologia do Estado português no século XXI, no bem e no mal. No bem, quando serve de pretexto para a introdução de reformas necessárias; no mal, quando relega para segundo plano considerações de carácter económico, industrial, ambiental e social de longo prazo em nome de imperativos financeiros de curto prazo.

Privatizar uma empresa não significa liberalizar um sector. Privatizar um monopólio não tem mesmo nada a ver com liberalização. Na perspectiva dos consumidores de energia, mais útil que privatizar as redes de transporte, seria liberalizar e privatizar integralmente os produtores e comercializadores de electricidade e de gás natural, favorecendo o desenvolvimento de uma concorrência saudável entre eles, num quadro ibérico transparente e eficiente. Assim, um monopólio semi-privado no meio de um mercado virtual produz o mesmo efeito que um smoking na praia.

Nada de mal acontecerá se, amanhã, após uma patriótica privatização para resolver a emergência financeira de hoje, os planos de expansão da REN forem anunciados num hotel londrino e os lucros das redes energéticas nacionais forem distribuídos pelas viúvas da Escócia, pelos reformados da Califórnia ou pelos oligarcas russos. Mas os consumidores portugueses de energia não retirarão daí qualquer benefício.

Ex-presidente da ERSE e consultor de energia


(in http://www.jornaldenegocios.pt/default.asp?Session=&CpContentId=298627)

segunda-feira, novembro 19, 2007

sábado, novembro 17, 2007

A gestão energética, a REN e as mexidas de Toto Mexia na EDP
Política energética, onde estás tu?


Por cá, está tudo bem?


Os assuntos relacionados com a energia têm uma importância essencial para a vida de todos nós, muito para além da forma fragmentária e enviesada como são tratados nos media. Nestes, são realçados os méritos socratóides no lançamento de barragens, parques eólicos, metas ambiciosas para as energias renováveis (para não cumprir) e ainda os números circenses que rodeiam a actividade das empresas do sector, as suas tricas, a criação de valor accionista e os altos e baixos das cotações. Para a multidão sobra o aumento do petróleo; do preço da electricidade que já é 26% superior à média europeia, de acordo com a DG Energia, com as suas consequências a jusante; e o afamado Mibel que está em banho-maria, de onde virá a bem-aventurança energética quando os preços forem atractivos para as eléctricas espanholas, quando a compra de electricidade francesa for agilizada, quando...

A política energética em Portugal tem-se pautado pela incoerência ou mesmo pela inexistência, segundo alguns especialistas. Vejamos algumas situações que nos ocorrem para ilustrar o comportamento das máfias que detêm o poder;

• Portugal é o país da Europa ocidental com maior dependência energética do exterior e aquele que, em contra-corrente, tem aumentado substancialmente, o seu consumo global, apesar da desindustrialização e da profícua actuação recente de um ministro do Ambiente chamado José Sócrates, conhecido como o Entulho da Serra.
• As construções não contemplam qualquer preocupação de baixo consumo energético. Citamos, por exemplo, as fachadas de vidro; as ausências de janelas normais, a exigir ar condicionado, com o seu cortejo de doenças alérgicas; as habitações “modernas” sem a possibilidade de secagem da roupa lavada ao ar ou ao sol mas, através de um secador; a instalação de máquinas de lavar loiça para agregados familiares de 1 a 3 pessoas; o fomento da moda de ar condicionado em habitações, num país com um clima bem ameno;
• A aposta nos grandes investimentos eólicos, hidroeléctricos ou solares que favorecem grandes empresas e as incontornáveis financiadoras dos partidos, as construtoras de obras públicas;
• Menosprezo pelo investimento particular, autónomo e descentralizado em energias renováveis, descurando um real apoio fiscal, a investigação e a criação de entidades com reais competências na montagem de sistemas solares. Para o poder mafioso “small is not beautiful” pois interessa perpetuar rendimentos para as gigantescas empresas energéticas;
• Gestão disparatada da mobilidade, com uso e abuso da utilização do automóvel próprio, facilitando-se a entrada e o estacionamento nas cidades, pois isso rende às construtoras de pontes, viadutos, vias pseudo-rápidas, empresas de cobrança de portagens, aluguer de estacionamento… mesmo que isso em nada favoreça a imagem dada aos turistas;
• Abandono das veleidades de criação de sistemas de transportes públicos permitindo-se às empresas concessionárias uma gestão baseada na redução da oferta, sobretudo à noite ou em áreas menos povoadas e, em aumentos das tarifas.
• Colocação do arremedo de politica energética a reboque dos ditames da EDP, da REN, da Galp e do restante cartel petrolífero, sem descurar os sacrossantos interesses do Ministério das Finanças na arrecadação de receitas.
Factores de irracionalidade

Citemos em seguida, alguns aspectos do poder discricionário e magestático das grandes empresas energéticas e dos governos portugueses que aquelas se subalternizam:

• Nunca houve qualquer racionalidade na montagem da rede de distribuição energética por parte da REN ou das suas antepassadas. É fácil encontrar ruas em que as linhas se cruzam como a base para a instalação de balões num arraial; é fácil encontrar uma profusão de postes espetados a esmo, com escassos metros de permeio, com fios pendurados.
• A instalação dessa infraestrutura é delegada em empresas contratadas, por empreitada, sem uma visão de conjunto sobre a poupança de recursos, garantida que está a repercussão de custos para o consumidor;
• Um caso concreto que conhecemos foi a extorsão praticada pela EDP que cobrou cerca de € 550 para a colocação de 16 metros de fio entre o alto de um poste e a entrada de uma vivenda, há cinco anos.
• Essa garantia de repercussão para o consumidor tem histórias pitorescas como a que conduziu à instalação de uma central térmica a carvão em Sines, onde existe uma refinaria e, queimar fuel numa outra, em Setúbal, onde não há refinaria mas, um porto de mar onde é possível descarregar carvão. Ou a não construção de um oleoduto para abastecimento do aeroporto da Portela, a partir do Carregado, preferindo-se a utilização de dezenas de camiões diários para o efeito.
• O modelo organizativo do sector energético tem flutuado ao sabor dos negócios privados ou das modas de gestão. Há alguns anos, a EDP subdividiu a distribuição em empresas regionais que rapidamente desapareceram, eventualmente, por sugestão do consultor que anos antes havia proposto o contrário. Custos? Que importa, o manso povo português paga!
• Se a instalação da infraestrutura de distribuição e a continuidade da utilização do espaço público fosse paga às câmaras; e, se fosse paga a utilização de terrenos particulares a quem permitisse a passagem de linhas e a colocação de postes, a REN seria mais racional na gestão do seu património;
• Na realidade, nem sequer em termos ambientais e paisagísticos há, qualquer sensibilidade da REN ou das câmaras para o enterramento dos cabos de passagem da energia. Ou melhor, há… se se tratar de um condomínio para gente fina.
• Nenhuma entidade regula a proximidade entre linhas de alta ou muito alta tensão e zonas habitáveis ou o seu enterramento; como ninguém regula a passagem de linhas por cima de casas ou zonas residenciais, sabendo-se de casos de queda dos mesmos sobre habitações. As lutas dos moradores de Sintra e Silves merecem todo o nosso apoio e o necessário surgimento de réplicas.
• O binómio REN-EDP sai caro a todos nós. Em números redondos, cada consumidor de electricidade forneceu, no primeiro semestre deste ano €42 de lucros para os accionistas da EDP e €17 para os “investidores” na REN; anualizados esses números, cada família contribui com €120 para os indigentes accionistas daquelas empresas. Um pouco demais para o mau serviço que prestam, não?
• A REN é dirigida por um tal José Penedos, socratóide de gabarito, há muitos anos conhecido por ser um dos principais angariadores de fundos para o partido junto dos chamados empresários. Esses óbulos são fornecidos gratuitamente? Achamos que só quem tem menos de cinco anos acredita nisso.
• Finalmente, dizem que há um regulador dos serviços eléctricos, chamado ERSE que, para os consumidores, de nada serve, à semelhança de outros reguladores, como a Anacom, o Banco de Portugal do seráfico sacerdote Constâncio, o Instituto de Seguros de Portugal, ou a Autoridade da Concorrência do impagável Abel Mateus, que se dedicam a conciliar os interesses das empresas e do “mercado”, estando-se nas tintas para as pessoas.
A EDP e o “edp5D”

Recentemente o artista Toto Mexia, presidente da EDP, apresentou um número circense dirigido a melhorar a factura da energia de 130 000 clientes da EDP, retirados de um conjunto de 1,5 milhões que têm uma potência instalada superior a 6,9 KvA, por sua vez incluídos nos 5,8 milhões de clientes da EDP. Para melhor se aquilatar o profundo alcance social do “edp5D” refira-se que ficam excluídos da benesse todos os clientes de baixa potência instalada (leia-se, lares normais, de gente de trabalho).

Afinal o que oferece esse rótulo “edp5D”?

Quem tiver instalada uma potência de 6,9 KvA e utilize aquele programa “social” paga € 11,02 fixos (contra os habituais € 11,29) e cada kwh a €0,1097 quando antes o mesmo lhe era facturado a €0,1071. Em suma, se esse cliente da EDP consumir 50 kwh/mês poupa 14 cêntimos mas, se consumir 100 kwh/mês já só poupa 1 cêntimo !

Se esse consumidor tiver instalada uma potência de 20,7 KvA, paga € 30,93 fixos por mês de potência (contra €33,09 antes) mas, cada kwh fica-lhe por €0,1107 em vez dos €0,1071. Como resultado, ganha €1,44 se tiver um consumo de 200 kwh/mês e atinge a indiferença se o consumo mensal for de 600 kwh.

Quando observarem na cara de alguém um sorriso de felicidade já sabem que isso se deve à edp5D e ao seu piedoso criador que, com os seus confrades, ficaram tão babosos com a obra que usaram um avental para limparem os queixos. (ver imagem anexa)

Esta contabilidade só reduz marginalmente o custo da electricidade e não penaliza os grandes consumos dentro, aliás, das normas tradicionais da EDP que passamos a tipificar:

• Se um consumidor usar esquemas de diferenciação dos consumos, em períodos de vazio e fora de vazio, o consumo no primeiro período tem um preço equivalente a metade da taxa normal mas, a mensalidade da taxa de potência sofre um agravamento que reduz o impacto na bolsa do consumidor;

• Se o consumidor tiver uma forte consciência ambiental e decidir utilizar as chamadas taxas verdes da EDP, que lhe garante estar a utilizar apenas energias renováveis (não se sabe como ou quem verifica se não há aldrabice) terá de pagar mais que os energívoros comuns! Se a potência instalada for de 6,9 kvA paga €0,1179 por kwh (€0,1190 se a potência for de 20,7 kvA) pela energia verde, em vez dos comuns € 0,1071

Quem é Toto Mexia

Para fechar vamos expor alguns elementos sobre o tal António Mexia, presidente da EDP, exemplar típico de gestor globalizado, neoliberal e incompetente naquilo que é uma verdadeira gestão.

A ridícula figura (veja-se em anexo uma imagem de um avental encimado por um riso alarve) tem um currículo invejável:

• Presidente da Galp até 2005 a sua brilhante gestão foi a responsável pela incúria que conduziu à morte de dois trabalhadores na refinaria de Matosinhos, por aligeiramento dos cuidados com a segurança;
• É óbvio que esse nefasto acontecimento pouco significa perante o magno objectivo de criar valor para os accionistas; aliás, dois trabalhadores a menos constitui até, um modesto contributo para o “downsizing”. Como membro ilustre da Associação dos Gestores e Empresários Católicos, decerto que já foi perdoado pelo seu desleixo, com a bênção de algum supranumerário…
• Apoiante desde a primeira hora do Compromisso Portugal, ao lado de flores tão belas como o Carrapatoso que viu uma sua dívida de € 700000 de IRS prescrever na DGCI sob o consulado do Paulo Macedo, putativo membro da venerável Opus Dei; e do Vaz Guedes da divertida carta dos 40 empresários contra a invasão espanhola, recentemente ligado a um financiamento ilegal do PSD;
• Amigo de Santana Lopes (diz-me com quem andas…) foi nomeado por este, Ministro dos Transportes, logo a seguir à morte dos trabalhadores na refinaria. O seu mais brilhante acto foi agilizar a extensão do comboio de Coina até Setúbal, mantendo a norma das elevadas tarifas da Fertagus e aceitando que um serviço suburbano tenha frequências de percursos sub-regionais. Como a Fertagus não tinha (e continua ser ter) equipamento suficiente, a CP ofereceu-se para alugar composições no que foi impedida pelo Mexia. Que horror, uma empresa pública demonstrar as insuficiências de um privado, era o que faltava!
• Quando Santana foi corrido de primeiro-ministro, Totó Mexia, amigo do seu amigo, reconhecido e condoído por ver Santana na miséria (o tonto conseguiu, com menos de 50 anos, reformar-se em 2005 com € 3500 mensais) ofereceu-lhe um lugar de assessor na EDP. Dadas as conhecidas qualidades de ser pensante e técnico jurista do Santana, Mexia colocou a EDP a pagar € 10000 por mês ao tontinho. Comovente acto de boa gestão.

Anexo: Imagem do Mexia com avental

Ver neste blog “Os próximos aumentos da electricidade e a política energética das máfias” em 23/11/2006

In (http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/)
Segundo as Nações Unidas a escolha a fazer é entre o mercado-rei ou a ecologia, sendo certo que a privatização é o pior cenário para o ambiente.

À Atenção dos Governantes Socialistas dos Açores e Não só


O futuro ecológico do planeta depende directamente das escolhas políticas a tomar. Jamais esta conclusão tinha sido tão evidente num documento das Nações Unidas. Mas é o que se pode ler no Relatório «GEO 4» do Programa das Nações Unidas para o ambiente (PNUE) publicado no dia 25 de Outubro, onde se diz claramente que a privatização generalizada dos recursos e dos serviços será o pior cenário do ponto de vista do ambiente.

Esta é a conclusão de uma abordagem original baseada na construção de cenários para futuros possíveis, cenários esses que são determinados pelas políticas que tiverem sido escolhidas para serem seguidas. Um trabalho que se prolongou por dois anos, feitos por grupos internacionais de especialistas, e cujo ponto de partida foi a crise ecológica que passa hoje o planeta.

Actualizando o quadro descritivo graças a numerosas fontes, o relatório do PNUE dá a conhecer o processo de degradação do clima, da biodiversidade, da saúde dos solos, dos recurso de água, etc…
Sublinha, por exemplo, a regressão verificada nos recursos disponíveis por cada habitante: com efeito, a superfície de terra disponível por cada ser humano passou de 7,91 hectares em 1900 para 2,02 em 2005.

Motivo de atenção é também a rapidez do fenómeno, constatando-se que a extensão e a composição dos ecossistemas terrestres foram modificados pelas populações a uma velocidade sem precedente. Os especialistas insistem igualmente na noção de limiar: « Os efeitos acumulados das contínuas mudanças no ambiente podem atingir limiares a partir dos quais podem acontecer mudanças brutais e irreversíveis. Tais perturbações não se verificarão só no clima, mas também em vários outros, como nos fenómenos da desertificação, descida dos níveis freáticos, colapso dos ecossistemas, etc »



«A destruição sistemática dos recursos naturais da Terra chegou a um tal ponto em que a viabilidade das economias está em perigo, para além de que a factura que teremos de deixar aos nossos filhos será impossível de pagar» - este é a conclusão a que chegou Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUE). Ao apresentar o relatório «GEO 4 – Futuro do ambiente mundial», no passado dia 25 de Outubro em Nova Iorque, ele frisou bem a conexão entre o sistema económico e a degradação do ambiente.

O «GEO 4» é o resultado do trabalho de 1.400 cientistas e especialistas e esboça um quadro alarmante da situação ecológica do planeta, apesar de também sublinhar quanto a sua evolução dependerá das escolhas a fazer em matéria de políticas económicas.

Vinte anos depois do célebre Relatório Brundtland que, em 1987, tinha inventado o conceito do desenvolvimento sustentável, a maioria dos indicadores agora divulgados encontram-se com luz vermelha: clima ( as concentrações de gás carbónico na atmosfera aumentou um terço nos últimos 20 anos), biodiversidade ( as populações de anfíbios foram reduzidos para metade durante o mesmo período), poluição ( a do ar é, por exemplo, responsável pela morte de 500.000 pessoas por ano, segundo a OMS), artificialização dos solos ( a impermeabilização urbana com cimento )

A PNUE mostra que a crise ecológica se articula com a crise social. O contraste é acentuado entre a pressão ecológica intensa que sofre a biosfera e a expansão económica, a qual fez aumentar o produto anual por ser humano de 6.000 para 8.000 dólares entre 1987 e 2007, mas de uma forma muito desigual: «As injustiças ambientais continuam a aumentar, afectando sobretudo os pobres ( que estão muito mais vulneráveis aos perigos naturais), as mulheres e os povos indígenas». O ambiente reflecte essas desigualdades: « certas regiões desenvolvidas realizaram progressos ambientais à custa de outras regiões, exportando a produção e os seus efeitos»

Os valores culturais próprios do sistema económico dominante têm o maior efeito, com «um modelo de desenvolvimento do Norte, prevalece sempre um tipo de desenvolvimento urbano baseado na dependência do automóvel.»

A PNUE vai mais longe apresentando cenários de evolução até 2050 segundo diferentes políticas. Trabalho que foi levado a cabo por vários grupos de especialistas internacionais que trabalharam sobre modelos prospectivos utilizados por várias instituições.

A modelização permite medir a influencia sobre o ambiente de cada um dos quatro cenários através do consumo de energia, as emissões de poluentes, o tipo de actividade agrícola, as reservas de água e outros parâmetros.

São definidos , assim, 4 cenários.

Para cada cenário existe 1 objectivo privilegiado:

A) O primado do mercado = o governo ajuda o sector privado a alcançar um máximo de crescimento económico
Neste cenário o Estado rende-se ao lucro do sector privado, assiste-se ao desenvolvimento sem limite do comércio, e à privatização dos bens naturais.

B) O primado da política = o governo aplica fortes políticas a fim de atingir o objectivo de dar muita importância ao desenvolvimento económico
Neste cenário há uma intervenção centralizada que visa equilibrar um forte crescimento económico por via de um esforço em limitar os impactos ambientais e sociais.

C) O primado da segurança = a prioridade é dada à procura de segurança sobre outros valores, colocando limitações crescentes ao modo como vivem as pessoas.

D) O primado da ecologia = aposta na colaboração entre o governo, a sociedade civil e o sector privado para melhorar o ambiente e o bem-estar de todos.
Neste cenário a opção clara é pela sustentabilidade e equidade, onde os cidadãos desempenharão um papel activo.


Sem surpresa o cenário ecológico tem em vista reduzir a amplitude da crise económica. Supõe que a demografia evolua abaixo das previsões da ONU,ou seja, de 8 biliões de habitantes em 2050. A taxa de crescimento anual da economia mundial seria moderada, mas longe de ser nula, uma vez que é admitido que o produto interior bruto mundial possa triplicar.

O cenário mercado mais não faz que prosseguir a lógica dominante dos anos 1990, prevendo-se que a população atinja os 9 biliões em 2050 e a multiplicação por cinco do crescimento do PIB mundial. Este cenário conduzirá a uma situação ecológica muito degradada em 2050, tal como o cenário de segurança que induzirá a conflitos permanentes por todo o planeta. Segundo os autores do relatório « no cenário do mercado, o ambiente e a sociedade evoluirão muito mais rapidamente para perturbações em que mudanças súbitas e irreversíveis poderão acontecer.»

O prosseguimento da liberalização aparece assim como o cenário mais perigoso. Os especialistas fazem notar que a lógica ecológica é incompatível com a busca ilimitada do crescimento económico: «A perda da biodiversidade e a mudança climática têm consequências irreversíveis, que o crescimento dos rendimento não poderá resolver»

A análise do PNUE não deverá alterar a curto prazo o sentido das políticas económicas que continuarão a estar focalizadas na liberalização e no crescimento. Mas apoiando o diagnóstico pessimista traçado pelo GIEC sobre o clima, e surgindo alguns dias antes do anúncio do Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre os países mais pobres, o certo é que o Relatório agora divulgado sublinha a importância de ora em diante a comunidade ambientalista se preocupar pelas escolhas económicas para o futuro.

Consultar o Relatório em
www.unep.org/geo
www.unep.org/french
Fonte: Le Monde

In (http://pimentanegra.blogspot.com/)

quinta-feira, novembro 08, 2007

O professor-polícia
Do portal do Ministério da Educação (12 Setembro): A partir do ano lectivo de 2007/2008, as escolas passarão a ter um delegado de segurança, um professor com formação específica, que assegurará a gestão do sistema de segurança de cada estabelecimento de ensino, a articulação com o programa Escola Segura, bem como o estabelecimento de contactos com as forças de segurança, os encarregados de educação e o Gabinete de Segurança do ME. Esse delegado de segurança deverá relatar as situações às forças de segurança, introduzi-las no sistema electrónico de recolha de informações e encaminhá-las para a Equipa de Missão para a Segurança Escolar. Além da figura do delegado de segurança, serão implantadas outras medidas, como os sistemas de videovigilância e a generalização do cartão electrónico. (http://www.min-edu.pt/np3/1042.html)
Carta aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa

Ílhavo, 22 de Outubro de 2007

Senhor Presidente da República Portuguesa

Excelência:

Disse V. Excia, no discurso do passado dia 5 de Outubro, que os professores precisavam de ser dignificados e eu ouso acrescentar: "Talvez V. Excia não saiba bem quanto!"

1. Sou professor há mais de trinta e seis anos e no ano passado tive o primeiro contacto com a maior mentira e o maior engano (não lhe chamo fraude porque talvez lhe falte a "má-fé") do ensino em Portugal que dá pelo nome de Cursos de Educação e Formação (CEF).
A mentira começa logo no facto de dois anos nestes cursos darem equivalência ao 9º ano, isto é, aldrabando a Matemática, dois é igual a três!
Um aluno pode faltar dez, vinte, trinta vezes a uma ou a várias disciplinas (mesmo estando na escola) mas, com aulas de remediação, de recuperação ou de compensação (chamem-lhe o que quiserem mas serão sempre sucedâneos de aulas e nunca aulas verdadeiras como as outras) fica sem faltas. Pode ter cinco, dez ou quinze faltas disciplinares, pode inclusive ter sido suspenso que no fim do ano fica sem faltas, fica puro e imaculado como se nascesse nesse momento.
Qual é a mensagem que o aluno retira deste procedimento? Que pode fazer tudo o que lhe apetecer que no final da ano desce sobre ele uma luz divina que o purifica ao contrário do que na vida acontece. Como se vê claramente não pode haver melhor incentivo à irresponsabilidade do que este.

2. Actualmente sinto vergonha de ser professor porque muitos alunos podem este ano encontrar-me na rua e dizerem: "Lá vai o palerma que se fartou de me dizer para me portar bem, que me dizia que podia reprovar por faltas e, afinal, não me aconteceu nada disso. Grande estúpido!"

3. É muito fácil falar de alunos problemáticos a partir dos gabinetes mas a distância que vai deles até às salas de aula é abissal. E é-o porque quando os responsáveis aparecem numa escola levam atrás de si (ou à sua frente, tanto faz) um magote de televisões e de jornais que se atropelam uns aos outros. Deviam era aparecer nas escolas sem avisar, sem jornalistas, trazer o seu carro particular e não terem lugar para estacionar como acontece na minha escola.
Quando aparecem fazem-no com crianças escolhidas e pagas por uma empresa de casting para ficarem bonitos (as crianças e os governantes) na televisão.
Os nossos alunos não são recrutados dessa maneira, não são louros, não têm caracóis no cabelo nem vestem roupa de marca.
Os nossos alunos entram na sala de aula aos berros e aos encontrões, trazem vestidas camisolas interiores cavadas, cheiram a suor e a outras coisas e têm os dentes em mísero estado.
Os nossos alunos estão em estado bruto, estão tal e qual a Natureza os fez, cresceram como silvas que nunca viram uma tesoura de poda. Apesar de terem 15/16 anos parece que nunca conviveram com gente civilizada.
Não fazem distinção entre o recreio e o interior da sala de aula onde entram de boné na cabeça, headphones nos ouvidos continuando as conversas que traziam do recreio.
Os nossos alunos entram na sala, sentam-se na cadeira, abrem as pernas, deixam-se escorregar pela cadeira abaixo e não trazem nem esferográfica nem uma folha de papel onde possam escrever seja o que for.
Quando lhes digo para se sentarem direitos, para se desencostarem da parede, para não se virarem para trás olham-me de soslaio como que a dizer "Olha-me este!" e passados alguns segundos estão com as mesmas atitudes.

4. Eu não quero alunos perfeitos. Eu quero apenas alunos normais!!!
Alunos que ao serem repreendidos não contradigam o que eu disse e que ao serem novamente chamados à razão não voltem a responder querendo ter a última palavra desafiando a minha autoridade, não me respeitando nem como pessoa mais velha nem como professor. Se nunca tive de aturar faltas de educação aos meus filhos por que é que hei-de aturar faltas de educação aos filhos dos outros? O Estado paga-me para ensinar os alunos, para os educar e ajudar a crescer; não me paga para os aturar! Quem vai conseguir dar aulas a alunos destes até aos 65 anos de idade?
Actualmente só vai para professor quem não está no seu juízo perfeito mas se o estiver, em cinco anos (ou cinco meses bastarão?...) os alunos se encarregarão de lhe arruinar completamente a sanidade mental.
Eu quero alunos que não falem todos ao mesmo tempo sobre coisas que não têm nada a ver com as aulas e quando peço a um que se cale ele não me responda: "Por que é que me mandou calar a mim? Não vê os outros também a falar?"
Eu quero alunos que não façam comentários despropositados de modo a que os outros se riam e respondam ao que eles disseram ateando o rastilho da balbúrdia em que ninguém se entende.
Eu quero alunos que não me obriguem a repetir em todas as aulas "Entram, sentam-se e calam-se!"
Eu quero alunos que não usem artes de ventríloquo para assobiar, cantar, grunhir, mugir, roncar e emitir outros sons. É claro que se eu não quisesse dar mais aula bastaria perguntar quem tinha sido e não sairia mais dali pois ninguém assumiria a responsabilidade.
Eu quero alunos que não desconheçam a existência de expressões como "obrigado", "por favor" e "desculpe" e que as usem sempre que o seu emprego se justifique.
Eu quero alunos que ao serem chamados a participar na aula não me olhem com enfado dizendo interiormente "Mas o que é que este quer agora?" e demorem uma eternidade a disponibilizar-se para a tarefa como se me estivessem a fazer um grande favor. Que fique bem claro que os alunos não me fazem favor nenhum em estarem na aula e a portarem-se bem.
Eu quero alunos que não estejam constantemente a receber e a enviar mensagens por telemóvel e a recusarem-se a entregar-mo quando lho peço para terminar esse contacto com o exterior pois esse aluno "não está na sala", está com a cabeça em outros mundos.
Eu sou um trabalhador como outro qualquer e como tal exijo condições de trabalho! Ora, como é que eu posso construir uma frase coerente, como é que eu posso escolher as palavras certas para ser claro e convincente se vejo um aluno a balouçar-se na cadeira, outro virado para trás a rir-se, outro a mexer no telemóvel e outro com a cabeça pousada na mesa a querer dormir?
Quando as aulas são apoiadas por fichas de trabalho gostaria que os alunos, ao sair da sala, não as amarrotassem e deitassem no cesto do lixo mesmo à minha frente ou não as deixassem "esquecidas" em cima da mesa.
Nos últimos cinco minutos de uma aula disse aos alunos que se aproximassem da secretária pois iria fazer uma experiência ilustrando o que tinha sido explicado e eles puseram os bonés na cabeça, as mochilas às costas e encaminharam-se todos em grande conversa para a porta da sala à espera que tocasse. Disse-lhes: "Meus meninos, a aula ainda não acabou! Cheguem-se aqui para verem a experiência!" mas nenhum deles se moveu um milímetro!!!
Como é possível, com alunos destes, criar a empatia necessária para uma aula bem sucedida?
É por estas e por outras que eu NÃO ADMITO A NINGUÉM, RIGOROSAMENTE A NINGUÉM, que ouse pensar, insinuar ou dizer que se os meus alunos não aprendem a culpa é minha!!!

5. No ano passado tive uma turma do 10º ano dum curso profissional em que um aluno, para resolver um problema no quadro, tinha de multiplicar 0,5 por 2 e este virou-se para os colegas a perguntar quem tinha uma máquina de calcular!!! No mesmo dia e na mesma turma outro aluno também pediu uma máquina de calcular para dividir 25,6 por 1.
Estes alunos podem não saber efectuar estas operações sem máquina e talvez tenham esse direito. O que não se pode é dizer que são alunos de uma turma do 10º ano!!!
Com este tipo de qualificação dada aos alunos não me admira que, daqui a dois ou três anos, estejamos à frente de todos os países europeus e do resto do mundo. Talvez estejamos só que os alunos continuarão a ser brutos, burros, ignorantes e desqualificados mas com um diploma!!!

6. São estes os alunos que, ao regressarem à escola, tanto orgulho dão ao Governo. Só que ninguém diz que os Cursos de Educação e Formação são enormes ecopontos (não sejamos hipócritas nem tenhamos medo das palavras) onde desaguam os alunos das mais diversas proveniências e com histórias de vida escolar e familiar de arrepiar desde várias repetências e inúmeras faltas disciplinares até famílias irresponsáveis.
Para os que têm traumas, doenças, carências, limitações e dificuldades várias há médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos, em quantidade suficiente, para os ajudar e complementar o trabalho dos professores?
Há alunos que têm o sublime descaramento de dizer que não andam na escola para estudar mas para "tirar o 9º ano".
Outros há que, simplesmente, não sabem o que andam a fazer na escola.
E, por último, existem os que se passeiam na escola só para boicotar as aulas e para infernizar a vida aos professores. Quem é que consegue ensinar seja o que for a alunos destes? E por que é que eu tenho de os aturar numa sala de aula durante períodos de noventa e de quarenta e cinco minutos por semana durante um ano lectivo? A troco de quê? Da gratidão da sociedade e do reconhecimento e do apreço do Ministério não é, de certeza absoluta!

7. Eu desafio seja quem for do Ministério da Educação (ou de outra área da sociedade) a enfrentar ( o verbo é mesmo esse, "enfrentar", já que de uma luta se trata.), durante uma semana apenas, uma turma destas sozinho, sem jornalistas nem guarda-costas, e cumprir um horário de professor tentando ensinar um assunto qualquer de uma unidade didáctica do programa escolar.
Eu quero saber se ao fim dessa semana esse ilustre voluntário ainda estará com vontade de continuar. E não me digam que isto é demagogia porque demagogia é falar das coisas sem as conhecer e a realidade escolar está numa sala de aula com alunos de carne, osso e odores e não num gabinete onde esses alunos são números num mapa de estatística e eu sei perfeitamente que o que o Governo quer são números para esse mapa, quer os alunos saibam estar sentados numa cadeira ou não (saber ler e explicar o que leram seria pedir demasiado pois esse conhecimento justificaria equivalência, não ao 9º ano, mas a um bacharelato.).
É preciso que o Ministério diga aos alunos que a aprendizagem exige esforço, que aprender custa, que aprender "dói"! É preciso dizer aos alunos que não basta andar na escola de telemóvel na mão para memorizar conhecimentos, aprender técnicas e adoptar posturas e comportamentos socialmente correctos.

Se V.Excia achar que eu sou pessimista e que estou a perder a sensibilidade por estar em contacto diário com este tipo de jovens pergunte a opinião de outros professores, indague junto das escolas, mande alguém saber. Mas tenha cuidado porque estes cursos são uma mentira.

Permita-me discordar de V. Excia mas dizer que os professores têm de ser dignificados é pouco, muito pouco mesmo.

Atenciosamente



Domingos Freire Cardoso
Professor de Ciências Físico-Químicas
Rua José António Vidal, nº 25 C
3830 - 203 ÍLHAVO

quarta-feira, novembro 07, 2007

SER PROFESSOR

"Não fazem nada!"
- dizem alguns...
"Não fazem nada!"
- pensam muitos...
"Três quartos de hora com as crianças e passam o resto do dia a não fazer nada!"
- acrescentam uns quantos...

Para a maior parte das pessoas, um Professor é apenas Professor quando tem
diante de si uma turma... se ao menos parassem para pensar, compreender,
saber... todas as ocasiões em que um Professor é Professor...

É Professor quando prepara todo o material que vai apresentar nas suas aulas,
transformando horas de pesquisa, planificação, estudo (sim, estudo!) em alguns
minutos de aula, reciclando, refazendo, reestruturando, reinventando o que
servia para uns mas não para outros de forma a que todos sejam tratados de
forma imparcial e justa;
É Professor quando se afasta da família, dos amigos e das suas raízes só para
ter a oportunidade de seguir a sua vocação;
É Professor quando tira dinheiro do próprio bolso de forma a compensar a falta
de recursos da Escola; Quando os livros que compra não são companhia de
cabeceira; Quando os filmes que adquire são em função de um determinado
conteúdo - "Os miúdos vão gostar" - pensa ingenuamente;
É Professor quando não consegue dormir, preocupado com os problemas das suas
turmas e dos seus alunos;
É Professor quando passa horas infindáveis em burocracias inúteis e quase sempre
redundantes;
É Professor quando faz as vezes de Pai, Mãe, Amigo, Irmão mais velho;
É Professor quando passa mais tempo com filhos de estranhos que com os seus
próprios filhos;
É Professor quando um governo "economiqueiro" o culpa por todos os males do
orçamento;
É Professor quando é insultado frontal ou veladamente, tanto na rua, como nos
blogs, como até por "amigos" e familiares;
É Professor por tudo isso e muito mais...
É Professor 24 horas por dia. Não é a distância (física) da Escola que termina a
sua função, o seu trabalho, o seu empenho.

Eu sou Professor.
E tu? O que és?

(recebido por mail)