sábado, setembro 29, 2007

O GOVERNO FINGE

O GOVERNO FINGE promover a temperança, mas sobrevive principalmente graças à embriaguês do povo;

O GOVERNO FINGE promover a educação, mas toda sua força baseia-se na ignorancia;

O GOVERNO FINGE defender a liberdade constitutional, mas apoia-se na ausência de liberdade;

O GOVERNO FINGE melhorar a condição do trabalhador, mas oprime-o para continuar existindo;

O GOVERNO FINGE apoiar a Cristandade, mas a Cristandade destrói todo governo.

O GOVERNO ELABORA LEIS para difundir a temperança mas não erradica a embriaguês;

O GOVERNO ELABORA LEIS de apoio à educação mas não suprime a ignorância, apenas a aumenta;

O GOVERNO ELABORA LEIS para garantir a liberdade constitucional, mas escora-se no despotismo;

O GOVERNO ELABORA LEIS de proteção ao trabalhador, mas não o livra da escravidão;

O GOVERNO PROMOVE um cristianismo, mas um cristianismo que não destrói o governo, apenas o apóia.

(Tolstoi em O Reino de Deus Está Dentro de Vós).

quinta-feira, setembro 27, 2007

COASTWATCH- EUROPE 2008

Apelo à Participação

O projecto Coastwatch Europe, surgido na Irlanda em 1989, envolvendo 23 países, consiste no estudo ambiental da faixa costeira, através do preenchimento de um questionário por cada troço de 500m.

Realizado na época pós-balnear, o projecto Coastwatch Europe tem os seguintes objectivos:

-Recolher dados sobre as características das zonas de costa e também sobre os principais problemas ambientais que as afectam. -Elaborar uma base de dados nacional e internacional actualizada, ano a ano, sobre o estado do litoral.

-Fornecer aos órgãos de decisão local e nacional e internacional elementos que contribuam para a gestão sustentada do Litoral, para a recuperação de zonas degradadas e para a preservação das áreas sensíveis.

-Alertar a população para os problemas ambientais da zona costeira e para a urgência da sua protecção.

Através da análise dos questionários, será elaborado um relatório que caracteriza a situação ambiental das zonas costeiras que posteriormente será divulgado à população em geral.

Este Projecto, coordenado a nível nacional, pelo GEOTA- Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, será implementado este ano em São Miguel, a partir do próximo mês de Outubro, sob a coordenação dos Amigos dos Açores.

Este projecto permite, através da Educação Ambiental, que cada cidadão envolvido contribua para a protecção dos sistemas litorais e para que este tenha sucesso, é necessário que haja uma grande adesão por parte dos cidadãos voluntários, principalmente ao nível das escolas, associações de escuteiros, universidade e Associações de Defesa do Ambiente.

Os professores dos diferentes níveis de escolaridade podem utilizar a participação dos seus alunos no Coastwatch Europe como forma de promoção de actividades de Educação Ambiental.

Todos os interessados em colaborar neste projecto deverão entrar em contacto com os Amigos dos Açores (Av da Paz, 14 - 9600 - 053 PICO DA PEDRA, Telefone 296498004, mail: amigosdosacores@gmail.com ).

domingo, setembro 23, 2007

A Eficiência Energética: simples no conceito e complexa na aplicação
20-Set-2007


O recente Livro Verde da Eificiência Energética da Comissão aponta para um potencial 20% de redução das necessidades - ou dos consumos - até 2020. Aqui está o caminho. Um caminho que abafa os delírios dos ‘vendedores de energia', em geral, navegadores de grandes naus. Claro que se dirá que aquele objectivo não se adequa à situação de Portugal. Aqui, a ‘vox populi' é a de que ainda não somos suficientemente desenvolvidos e que por isso os nossos consumos deverão crescer em correspondência com a necessidade do crescimento económico.

Artigo de Eduardo de Oliveira Fernandes

Energia é, etimologicamente, a capacidade de mobilizar uma força. Daí, energia ser fonte de vida e ser causa de acção e de movimento e, por isso, poder ser condição de progresso, de crescimento de riqueza e de bem estar.

Mas, a energia é também e só ambiente: fóssil ou renovável, a energia vem do ambiente e - num paralelo com a ‘condenação' bíblica - ao ambiente há-de tornar. Isto, num regresso sem custo, como é, por exemplo, o caso do ´resíduo' da luz do sol que entra pela vidraça ou, muito oneroso, como é o caso dos efluentes da combustão. Aqui, a situação é particularmente séria, não já pelos gases do nível da meso-escala (SO2, NOx,...) mas, pelo gás da escala global (ozono, CO2).

A energia não se consome mas transforma-se. ‘Consome-se' a energia a um certo nível de qualidade quando é usada, isto é, convertida, dando origem a uma ou mais ‘variedades' de energia de qualidade inferior. É o caso da electricidade que acciona um motor ou do combustível que se queima numa caldeira. Em geral, por fatalidade termodinâmica, o calor aparece como a variedade mais votada a ser essa energia de perdas: na central térmica com os gases libertos para atmosfera; nos efluentes líquidos e gasosos, com ou sem vapor de água, dos processos industriais; na ‘regulação' do sobre-aquecimento da enfermaria do hospital com a abertura das janelas, etc. etc. A percepção desta realidade deve estimular a engenharia e a organização das actividades para evitar ou reduzir o impacte dessas perdas. E a tecnologia deve responder e responde.

É por isso que é possível ter em centrais de ciclo combinado mais 30 a 50 % de rendimento para a mesma energia do combustível queimado do que numa central térmica convencional: ter sistemas de recuperação de calor do ar quente de exaustão para o ar aquecido necessário ao processo; ter edifícios com uma solução ‘por medida' para cada espaço e a cada estação; antecipar eficiências por melhoria tecnológicas em frigoríficos, em lâmpadas e em outros equipamentos de até 50 ou 70%.

Mas a energia que se perde por entre os dedos das sociedades do desperdício não é só essa do ‘fim de linha' mas é também aquela que se usa sem que seja, de facto, necessária. Esta afirmação, é já bem entendida por todos quando nos referimos à água. Ninguém responsável advogaria meios de aumentar desnecessariamente os usos - também aqui, a água não se consome - de água potável. Mas, o curioso é que esta cultura não chegou ainda á energia. Com isto não se defendem restrições ou atitudes de austeridade seja de que tipo for. Note-se que, embora tal se torne necessário quanto à água com alguma frequência, isso seria menos aceitável no que concrene à energia.

O que parece impor-se é uma racionalidade que não se afigura fácil encontrar na gestão dos recursos energéticos. Que a população que vive/trabalha no Parque das Nações apresenta metade da capitação energética do resto de Lisboa, não se detecta pela observação do comportamento austero ou exótico daquela parte da população. Ao contrário, é uma zona de grande exuberância social e económica. Foi a concepção dos sistemas, foi o processo fundador de planeamento urbano, do projecto dos edifícios mais marcantes e do licenciamento, etc. que induziu essa ‘ordem energética'. Uma ordem que muitos dos sucessivos responsáveis daquela área nunca valorizaram porque nunca perceberam. É caso para dizer que também aqui há lugar a falar de falta de cultura. A cultura ambiental, holística, que envolve a gestão racional, sustentável(?), de todos os recursos e que é pressuposto da atitude pró eficiência. Note-se que eficiência não é poupança, restrição ou austeridade mas é um exercício de saciedade, de racionalidade tecnológica, de responsabilidade social. Não entendemos, apesar de tudo, já bastante bem o que é a responsabilidade social em relação ao ambiente? Pois bem, incluamos a energia porque energia é ambiente.

Neste contexto falar de eficiência energética não é coisa menor. O recente Livro Verde da Eificiência Energética da Comissão aponta para um potencial 20% de redução das necessidades - ou dos consumos - até 2020. Aqui está o caminho. Um caminho que abafa os delírios dos ‘vendedores de energia', em geral, navegadores de grandes naus. Claro que se dirá que aquele objectivo não se adequa à situação de Portugal. Aqui, a ‘vox populi' é a de que ainda não somos suficientemente desenvolvidos e que por isso os nossos consumos deverão crescer em correspondência com a necessidade do crescimento económico. Não seremos nós a dizer que os consumos não deverão crescer mas, o objectivo da eficiência, se adoptado e assumido politicamente, deverá permitir que as taxas de crescimento da energia não sejam tão altas e que a intensidade energética do produto interno bruto possa diminuir criando o espaço a que medidas de racionalização combatam o desenvolvimento de usos ociosos e compensem os crescimentos economica e socialmente justificados.

O que se espera é uma política de rigor, definida com visão. A política da energia em Portugal tem andado em bolandas sem merecer a devida consideração pelos poderes, sem visão e mesmo sem sentido da responsabilidade. Sobram os exemplos. Muitos encaram o mercado da energia como um mercado de bens quando, no fundo é um mercado de serviços. Entendem-no bem aqueles que tendo responsabilidade em empresas de distribuição, promovem a eficiência dos usos da energia final numa lógica de que o importante não é vender mais mas é de fidelizar o cliente e assegurar o serviço mais eficiente.

Não estão em causa as tecnologias, nem a informação, nem sequer a formação dos agentes especializados mas sim os objectivos políticos, de desenvolvimento sustentável, de qualidade de vida e de excelência do quadro de vida. E, em consequência, estão em causa os instrumentos duma política para o recurso energia, nomeadamente, entre outros, instrumentos da fiscalidade da energia e dos seus sinais para a competitividade da economia mas, também, para a sustentabilidade ‘at large' da sociedade portuguesa; da coerência da gestão interdepartamental da relação energia-ambiente, ambiente natural e ambiente urbano; da responsabilidade da Administração enquanto responsável por uma fatia significativa da ‘procura' energética.

Se um tal quadro político existir e se os orgãos gestores forem competentes e estáveis e se metas forem definidas, não se vê a razão porque a eficiência não possa ser um vector significativo do aprovisionamento energético do futuro. E isto, com benefício para o tecido económico e social, nomeadamente, através de mais emprego qualificado e da inovação e da tecnologia difusas, como é próprio das sociedades desenvolvidas.

A eficiência energética é uma das características do novo paradigma energético tipificado pela importância da gestão da procura, a par da tradicional gestão da oferta, pela liberalização e pela descentralização. Se algumas destas variáveis, digamos assim, actua mais directamente pelo lado do mercado, outras têm uma marca de racionalidade técnica e tecnológica. É isso que levará, por exemplo, à identificação dos edifícios, para além de ‘utilizadores', vulgo ‘consumidores', de energia, como entes marcantes no futuro enquanto ‘produtores' de energia eléctrica (via paineis fotovoltaicos) ou de água quente sanitária (via colectores solares térmicos).

Simples no conceito, a eficiência energética exprime-se por indicadores simples do tipo rendimento ou intensidade energética e traduz-se numa racionalidade assente no estado da arte da tecnologia, na qualidade da organização e da gestão. É, no entanto, extremamente complexa na aplicação porque envolve a comunidade a todos os níveis. Por isso, a importância da política na eficiência energética.

A eficiência energética constitui um desafio permanente aos que acreditam no futuro e no trabalho sério e consistente na construção desse futuro e rejeitam a visão ‘gadgética' da tecnologia ‘chave na mão', dos comerciantes oportunistas e dos que acordando tarde estão dispostos a pagar caro porque não tiveram tempo até aqui para pensar e se organizarem.

A eficiência energética a par da promoção das energias renováveis é uma tarefa do futuro, da inteligência, da boa gestão dos recursos e da sustentabilidade. Mas sendo do futuro, deverá começar já, do lado da oferta e, sobretudo, do lado da procura envolvendo todos os utilizadores de energia até aos simples cidadãos. A urgência do futuro, por um lado, e a complexidade da gestão da procura, por outro lado, fazem da eficiência energética e das energias renováveis dois vectores prioritários da intervenção política transversais, globais e complementares para a construção do novo paradigma energético que já se antevê no horizonte.

Eduardo de Oliveira Fernandes

Professor Catedrático da FEUP


(retirado de Esquerda.net)

quarta-feira, setembro 19, 2007

19/9/2007
Cientistas alertam para perigos das radiações electromagnéticas


A radiação emitida pelos cabos de alta tensão "é responsável por centenas de
novos casos de leucemia infantil anualmente em todo o Mundo". A afirmação é
de um grupo internacional de cientistas, que levanta sérias preocupações
sobre a segurança dos limites de exposição a campos electromagnéticos (CEM)
provenientes de cabos de alta tensão, telemóveis e outras fontes.

Num relatório publicado no final de Agosto, os investigadores e
profissionais de saúde pública do projecto BioInitiative
(www.bioinitiative.org), apresentam um conjunto de provas científicas que
vieram aumentar as preocupações sobre o impacto das radiações
electromagnéticas na saúde, incluindo casos de leucemia infantil, tumores
cerebrais, neuroma acústico e Alzheimer.

Os cientistas afirmam que há provas de que os CEM são um factor de risco
para o cancro, tanto em crianças como em adultos. "A radiação
electromagnética proveniente de cabos de alta tensão, cabos eléctricos
domésticos e equipamentos eléctricos está associada a um aumento do risco de
leucemia infantil e pode criar as condições para o surgimento de cancro na
idade adulta".

Segundo o documento, existem evidências científicas de que a exposição a CEM
dezenas ou centenas de vezes inferiores aos limites internacionais continua
a causar impactos na saúde. Os investigadores analisaram mais de 2000
estudos científicos e concluíram que os limites de segurança existentes são
inadequados para proteger a saúde pública.

Outro alerta vai para as tecnologias sem fios. O wireless ou Wi-Fi, por
exemplo, que depende da radiação de radiofrequência para enviar mensagens de
email e comunicação de voz, "é milhares de vezes mais forte do que os níveis
identificados como causadores de sintomas como insónia, dores de cabeça,
falta de memória e concentração e outros sintomas físicos adversos".

"Este estudo é um alerta para os graves efeitos que a exposição a longo
prazo a alguns tipos de CEM pode provocar na saúde", defende David
Carpenter, perito em saúde pública e co-autor do estudo. "Agora é necessário
uma boa estratégia das autoridades de saúde para prevenir o cancro e outras
doenças neurológicas relacionadas com a exposição a cabos de alta tensão e
outras fontes de CEM", afirma o director do Instituto de Saúde e Ambiente da
Universidade de Albany, nos Estados Unidos. "É preciso explicar aos
decisores e ao público que é inaceitável continuarmos da mesma forma",
defende.

O relatório conclui que "os dados actuais, embora limitados, são
suficientemente fortes para questionar a fundamentação científica dos
limites de segurança em vigor". A própria Agência Europeia de Ambiente,
parceira no estudo, defende a adopção do princípio da precaução. Em
declarações ao The Independent, o director executivo da Agência afirma que
"seria prudente que as autoridades de saúde recomendassem medidas para
reduzir a exposição, sobretudo dos grupos mais vulneráveis, como as
crianças".

Luís Galrão
http://www.cidadeviva.pt/ver_nots.asp?id=981

segunda-feira, setembro 17, 2007


Transgénicos? Não, obrigado!

Os ministros europeus da Agricultura reúnem-se por estes dias na cidade do Porto. São eles, os decisores políticos, que são responsáveis pelas medidas relativas à agricultura e, em última análise, sobre a nossa segurança alimentar. Coube-lhes a eles a decisão de acabar com a moratória sobre a produção e comercialização de produtos agrícolas transgénicos no espaço da União Europeia, que vigorou durante alguns anos, apesar de todas as dúvidas e incertezas que rodeiam os organismos geneticamente modificados, sobretudo quanto aos efeitos que poderão ter a médio e longo prazo na saúde humana. Daí a urgência e a necessidade de medidas que imponham a rotulagem indicativa nos bens alimentares ( como os produtos animais) com transgénicos incorporados na sua cadeia de produção.

A forma como são aprovados e licenciados os transgénicos a nível da União Europeia é também tudo menos transparente, e todas as dúvidas são legítimas face ao poder e à pressão das grandes empresas agro-alimentares sobre as instâncias comunitárias que autorizam a comercialização daqueles produtos sem uma investigação independente sobre os mesmos!!!

A criação de zonas livres de OGMs deve ser um direito e uma possibilidade para todas as regiões e municípios da Europa. Qualquer entrave desse direito deve merecer a nossa mais viva repulsa e ser motivo de crítica por parte de todos nós. Não menos importante é a reivindicação de existirem zonas-tampões alargadas entre os terrenos cultivados com transgénicos e todas as demais culturas convencionais a fim de impedir a contaminação destas pelo efeito invasivo da polinização das plantas transgénicas sobre as outras. Com efeito, a distância actual fixada mostra-se claramente insuficiente, sendo um forte motivo de contestação por partes dos agricultores vizinhos dos terrenos com culturas transgénicas.

Por todas estas razões é que apelamos à mobilização dos cidadãos do Porto para que manifestem a sua mais viva inquietação e repulsa em relação à introdução dos transgénicos não só nos campos e culturas agrícolas do nosso país, como na cadeia alimentar, sem os estudos independentes nem o consenso entre a comunidade científica sobre a matéria, nomeadamente quanto aos efeitos nocivos para a nossa saúde.

Reivindicamos a revisão da legislação de forma a impôr uma rotulagem indicativa dos produtos derivados dos transgénicos, o aumento da extensão das zonas-tampões entre culturas transgénicas e convencionais, assim como investigações científicas independentes dos grandes lobbies que dominam o sector. Mas, sobretudo, impõe-se a aprovação de uma nova moratória na União Europeia que suspenda a comercialização dos transgénicos até a obtenção de dados e informações técnico-científicas mais fiáveis no respeito pelo Princípio da Precaução que deve reger matérias tão sensíveis como esta.

Com a comercialização e a produção de produtos transgénicos é toda a biodiversidade e soberania alimentar que ficam em causa, pois é toda a variedade natural de culturas agrícolas e da agricultura local que desaparecem para dar lugar a monoculturas agrícolas impostas pelas 5 ou 6 empresas que monopolizam à escala global o agro-negócio.


Informar e consciencializar o cidadão, alertar a população e mobilizar as pessoas contra os riscos e os perigos dos transgénicos na agricultura e na nossa alimentação são um imperativo democrático que a todos deve motivar.

Aproveitemos assim o encontro informal dos ministros europeus de Agricultura para relançar a campanha contra os transgénicos e exigir uma nova moratória para toda a União Europeia.

Stop OGMs

Por uma Europa livre de transgénicos

Transgénicos, fora dos nossos pratos

(Extraído de Pimenta Negra)

quarta-feira, setembro 05, 2007

A propósito da não-violência e das lutas sociais ilegais

Ceifeiros Voluntários de Transgénicos (OGMs)


Tirar fotocópias de um livro é um acto ilegal, mas um acto não-violento.
E o mesmo se passou em Silves com a acção contra os transgénicos: tratou-se também de um acto ilegal não-violento.


A intoxicação é tanta, o confusionismo que se instalou é enorme que se torna imperioso que as pessoas mais sensatas e esclarecidas intervenham e mostrem que a acção não-violenta contra os transgénicos em Silves foi mais uma das muitas que se tem registado desde há anos por essa Europa fora.

É PRECISO CONTRARIAR A DESINFORMAÇÃO E O OBSCURANTISMO que é incutido por gente ao serviço de interesses inconfessáveis.

Por isso aqui vão alguns esclarecimentos para os que estão mais confusos.

A acção contra os transgénicos em Silves foi uma acção ilegal ( como é ilegal tirar fotocópias de um livro, ou impedir a circulação numa estrada) , mas todos esses actos são acções não-violentas.

Juridicamente a violência física define-se como o emprego de força sobre o corpo da vítima, com alguma lesão corporal para a sua integridade física. Ora nada disso aconteceu.


Para mostrar o carácter não-violento da acção contra os transgénicos coloco aqui abaixo um texto com uma entrevista a Jean-Baptiste Libouban, uma das figuras destacadas do movimento dos ceifeiros voluntários que tem levado a cabo ceifas anti-OGM em França.

Jean-Baptiste Libouban pertence e foi responsável pelas Comunidades de l’Arche, que são as comunidades inspiradas na filosofia da não-violência de Lanza del Vasto.


O texto de Boaventura Sousa Santos, o mais prestigiado sociólogo português, e também doutorado em direito penal pela Faculdade de Direito de Coimbra, que há dias atrás transcrevi aqui, fala que os actos ilegais foram fundacionais das democracias modernas.


Um texto de José Carlos Marques, que também entretanto apareceu ( pesquisar no Fórum do Gaia), mostra igualmente que muitas das acções na recente história do movimento ecologista foram ilegais.

Victor Louro, engenheiro de silvicultura, num texto publicado no jornal Público do passado domingo, escreve:

«Em Portugal assistimos, por exemplo, nas décadas de 80 e 90, a acções contra a eucaliptização indiscriminada, nem todas respeitadoras da legalidade instituída. No entanto, foi graças a tais acções (algumas também atentatórias da propriedade privada), que a eucaliptização selvagem foi sendo travada, dando origem a legislação mais atenta ao bem público. Mas nem nessa altura se viu a berraria a que temos assistido a propósito desta acção relativa ao milho transgénico!»



Entrevista com Jean-Baptiste Libouban:
http://www.terre-net.fr/outils/fiches/FicheDetail.asp?id=2731

Jean-Baptiste Libouban é um membro das Comunidades de L’Arche (movimento criado por Lanza del Vasto), de que ele foi um dos principais responsáveis entre 1990 e 2005. Ele é ambém um dos iniciadores do movimento dos «Ceifeiros Voluntários» (Fauchers Volontaires) para cuja criação ele apelou no encontro de Larzac 2003.
Participou em numerosas ceifas anti-OGM e foi condenado pelo tribunal de Toulouse em 8 de Novembro de 2004 por uma acção de destruição de uma parcela de milho transgénico em 25 de Julho de 2004 em Menville ( Haute-Garonne, França), tendo apelado para o tribunal superior dessa decisão, esperando uma decisão final para o próximo dia 10 de Janeiro de 2007.

Acerca de Libouban, da não-violência e das Comunidades de L’Arche de Lanza del Vasto, ver:
http://amopie.free.fr/l_arche_de_lanza.htm



«Nós não pedimos à Monsanto para vir poluir os nossos campos»(Jean-Baptiste Libouban)

No momento em que se multiplicam as acções anti-OGM em França a tensão entre activistas e agricultores de transgénicos aumenta à medida que estes vêem os seus campos a serem periodicamente destruídos, apesar dos processos judiciais contra os primeiros e do apelo a mais dureza lançado pelo procurador-geral.
Trata-se de um fenómeno que marca o aparecimento mediático dos «Ceifeiros Voluntários», um grupo que soube impor-se na paisagem pública em poucos anos. Encontro com Jean-Baptiste Libouban, agricultor reformado, que está na origem da criação do colectivo.

Pergunta – Como nasceram os ceifeiros voluntários?

Resposta de Jean-Baptiste Libouban – A génese do movimento remonta à destruição de um stock de sementes transgénicas no laboratório da Novartis em Lot-et-Garonne, em Fevereiro de 1998. Quando José Bové e os seus colegas foram condenados, criminalizados pelo seu acto, pareceu-me insuportável que uma vez mais fossem os camponeses, os únicos a arcar com a responsabilidade por uma acção concebida e realizada pelo bem comum. Daí surgiu a ideia de alargar a base de militantes. No dia da saída da prisão, fui ter com José Bové para lhe apresentar o meu projecto, que imediatamente lhe agradou. A ideia era de reunir, à volta da questão dos OGM, gente de todos os horizontes que, conscientemente, se empenhassem contra os cultivos transgénicos. Por ocasião do encontro de Larzac de 2003, montamos um stand para informar os participantes da nossa iniciativa. No fim do encontro tínhamos reunido mais de 400 assinaturas de pessoas prontas a associarem-se ao movimento. Hoje somos 3.2000 ceifeiros. Todos se identificam no combate contra os OGM em razão do risco que eles representam para o património vegetal., do perigo latente em matéria de saúde humana, e da vontade conjunta de defesa do mundo camponês.

Pergunta – Vocês definem-se como «colectivo cidadão», enquanto os agricultores de transgénicos qualificam as vossas acções como de «simples delinquentes». Como concebe um movimento de cidadãos actuando na ilegalidade?

Resposta – Toda a noção de desobediência civil está aí. Estamos conscientes em que actuamos contra as normas legais. Mas diferentemente dos criminosos não fugimos à sanção, porque actuamos por aquilo que estimamos ser o interesse colectivo. É preciso mudar a lei que protege as empresas que colocam em perigo o nosso património comum, o património vegetal. Por exemplo, nenhuma responsabilidade foi pedida em caso de contaminação de um terreno por uma cultura vizinha de OGM . Isso é intolerável. Não me considero delinquente, mas enquanto membro da sociedade civil, entendo que de deve ouvir a voz da maioria dos franceses que, recorde-se, se opuseram aos OGM.


P – As acções dos ceifeiros voluntários obedecem a um certo número de regras.


R – Sim, absolutamente.As manifestações lançadas e reivindicadas pelos ceifeiros voluntários são feitas sistematicamente a luz do dia, de cara descoberta e de maneira não-violenta.. A este títuloreivindicamos até agora 3 acções. As de Menvile, Marsat e Pithiviers, as únicas que preencheram essas condições. Além disso, não somos uma associação, o que evita eventuais demandas judiciárias contra nós. Cada cefeiro responde inteiramente, e unicamente, pelos seus actos face à justiça. É por essa situação, ou antes por falta de um estatuto definido, que se explica o facto de na hora em que algumas figuras conhecidas do movimento serem ouvidas nos postos policiais também haver uma massiva comparência de activistas. De resto, a atitude das autoridades é contraditória. Actualmente somos nove pessoas processadas por um «delito cometido em reunião com 400 co-autores ou cúmplices». Se assim é porque não ouvir esses 400 «cúmplices»? Porquê que são seleccionados apenas os eleitos e as caras conhecidas – eis uma pergunta a ser feita ao proocurador.

P – A propósito disso como explica que, no momento em que o Procurador-geral pede maior dureza contra os ceifeiros voluntários, são muitas as pessoas que se surpreendem com a relativa impunidade que os activistas beneficiam durante as suas acções?

R – É verdade que em Menville,por exemplo, os poucos polícias presentes não impediram a destruição das culturas de transgénicos, mas identificaram os participantes com vista a acusações posteriores. Penso que se trata de uma orientação dos poderes públicos para não fazerem de nós mártires, o que multiplicaria o número de ceifeiros. Dito isto, tal não impede o risco de apnharmos penas de cinco anos de prisão e 75.000 euros de multa, e o dobro para José Bové, que é reincidente. Aceito que a situação é igualmente difícil para os agricultores de transgénicos que perdem muito dinheiro e trabalho nessas destruições. Mas não fomos nós que pedimos à Monsanto e a outros para virem poluir os nossos campos.

P – Uma nova destruição é prevista para o dia 5 de Setembro. O objectivo da vossa luta não será afinal de forçar a justiça prender-vos, em desespero de causa?

R – Mas isso só iria reforçar o movimento. Caso eles nos prendam, tal seria lamentável, mas lá estaremos. Em todo o caso, ninguém se subtrairá à justiça. Representamos a sociedade civil, em que uma maioria rejeita os OGM. Se o Estado não assume o seu papel, nós faremos o seu. Somos uma espécie de cirurgiões As culturas transgénicas ao ar livre são membros atingidos por gangrena que se torna necessário amputar antes que o mal se lastre aos campos vizinhos. As grandes empresas de sementes empurraram o governo a aceitar as culturas ao ar livre, pensando num mercado a conquistar. Pela minha parte, penso que a agricultura francesa deve ter outras ambições.

P- O que pensa sobre o impacto nos media do colectivo a que pertence?

R – Acho que os ceifeiros dão um boa resposta de cidadania a um problema da sociedade. Diz-se que os Franceses não votam, que se desinteressam do debate: eu, por mim, vejo pessoas que se mobilizam. Isso agrada-me, mesmo que me vá custar caro.

P – Os ensaios sobre os OGM devem continuar?

R - Nós não somos contra uma investigação pura, desde que seja confinada, e independente das empresas privadas.O que eu receio é a difusão de produtos de que não tem a mínima ideia do seu impacto no ambiente, nem sobre a saúde humana. E os ensaios ao ar livre, para além de um risco elevado de contaminação que provocam. Constituem um autêntico perigo para as culturas sãs vizinhas. Ao contrário do que ouvi dizer da boca de eminentes cientistas, o princípio da precaução defendido entre outros por Hervé Gaymard é tudo menos um travão à pesquisa.


Ler um artigo do jornal L'Humanité sobre Libouban, sintomaticamente com o título «Em nome dos fora-da-lei»:

http://www.humanite.fr/2004-08-05_Politique_-Au-nom-des-hors-la-loi

Ler ainda:
http://non-violence-mp.org/reflexions_fichiers/libouban.htm

(Extraído de Pimenta Negra)